As atitudes dos atuais gestores da educação pública do Distrito Federal culminaram na greve dos professores deflagrada em 08 de março último e em vigor desde o último dia 12. Tenho sido testemunha e também vítima de algumas dessas demonstrações. A foto acima, por exemplo, é a expressão dos alunos da última escola por onde passei, os quais foram vítimas de uma higienização orquestrada nos gabinetes de alguns dos altos encarregados da SEDF. E isso não pode, mais uma vez, cair no interstício da recente história de desmandos e trapalhadas que tive o desprazer de testemunhar.
Minha inquietude não permitiu que me calasse, pois atitudes como essa não podem dar amparo a políticas públicas para a educação, tampouco legitimar qualquer grupo político de esquerda. Entendo ser inadmissível que essa desorganização, oriunda de interpretações equivocadas de gestão escoradas em velhas práticas políticas, culminem nesse abandono e destrato ao ser humano. Poderia, mas preferi não me aprofundar no ECA para citar mais adjetivos que poderiam ser elencados nessa situação. O caso foi grave.
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Muitas escolas da periferia são melhores
que a maioria das do Plano Piloto, como manifestado
por eles ao desembarcarem na "ilha da fantasia" |
Essa indignação resulta da compulsória transferência de estudantes em defasagem idade-série (ou seja: repetentes) da Regional de Ensino do Paranoá para uma escola sem a menor estrutura material, administrativa ou logística para acolhê-los. E, acreditem se quiser, ficaram três semanas largados ao relento sem metade dos professores, ou ainda sem sequer terem sido recebidos pela direção na porta da escola! Nem um mínimo "boa tarde"! Tremendo desrespeito. E incompetência. Ainda pior, a lição transmitida de forma explícita àqueles educandos foi: suas vidas não são definidas por vocês e sim pelos gabinetes políticos (quiçá mesas de bar); as migalhas que o poder público oferece são dessa qualidade, quer vocês gostem ou não; os critérios para distribuição dessas migalhas são subserviência, conformismo e conivência. Essa atitude jamais poderia partir de um governo que se auto-afirma democrático e popular, o qual elegi e compus administrativamente no ano de 2011, e onde presenciei também a metástase de células rorizistas. E essa maldição me prejudica pessoalmente até hoje.
As células da metástase rorizista ganharam sobrevida com a aliança maldita composta na eleição de 2010, o que impossibilitou ou engessou a ação de alguns gestores do GDF no início de seus mandatos, o que hoje se manifesta nessa diarréia de ações mal concebidas e antagônicas ao pensamento revolucionário, de radical marxista e ontologicamente democrático. Companheiros nossos já declararam: "um novo caminho, velhas práticas".
A culminância dessas velhas práticas foi a deflagração da greve dos professores e professoras da rede pública do DF, surpreendidos com atitudes reacionárias e antidemocráticas concebidas em sua origem por governos anteriores, que representam o contraditório de nossas crenças e práticas políticas. Não acredito que o uso da força bruta, verticalização das decisões e falta de diálogo possa legitimar positivamente qualquer grupo político, debilitando companheiros históricos e fortalecendo a coalizão e o "fogo amigo". Isso leva à convalesceça de nossos propósitos democráticos e populares.
Também não é implementando o senso comum, mesmo que outrora revolucionário, e hoje possivelmente anacrônico, que se alicerçará um novo caminho. Digo sobre os exemplos vividos em meu nicho de atuação, a educação física, aplicável a outras esferas da educação pública (como o desarranjo ilustrado acima). É preciso o discernimento que a ciência e o pensamento reacionário modernizaram-se, e pior, travestidos de salvação do conhecimento e ciência humanas. Então reafirmo, não é possível construir um novo fazer na direção da emancipação de forma vertical, e por grupos que desejam apenas legitimar seu pensamento, muitas vezes obsoletos para a demanda da revolução, ainda que oriundos da academia. A educação física e a gestão central da SEDF dão sinais que isto está mais vivo do que nunca. A resposta para isso está nas ruas.