terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“A Privataria Tucana” marca o fim de uma era

extraído do Blog do Nassif 

Enviado por luisnassif

O livro "A Privataria Tucana" marca o desfecho de uma era, ao decretar o fim político de José Serra. A falta de respostas de Serra ao livro - limitou-se a taxá-lo de "lixo" - foi a comprovação final de que não havia como responder às denúncias ali levantadas.
O livro mostra como, após as privatizaçōes, o Banco Opportunity - um dos maiores beneficiados - aportou recursos em paraísos fiscais, em empresas da filha Verônica Serra. Depois, como esse dinheiro entrou no país e serviu, entre outras coisas, para (simular) a compra da casa em que Serra vive.
Tem muito mais. Mostra a extensa rede de pessoas cercando Serra que, desde o início dos anos 90, fazia negócios entre si, utilizando o Banespa, o Banco do Brasil, circuitos de paraísos fiscais, as mesmas holdings utilizadas por outros personagens controvertidos para esquentar dinheiro
Provavelmente o livro não suscitará uma CPI, pela relevante razão de que o sistema de doleiros, paraísos fiscais, foi abundantemente utilizado por todos os partidos políticos, incluindo o PT. Aliás, uma das grandes estratégias de José Dirceu, assim que Lula é eleito, foi mapear e cooptar os personagens estrangeiros da privatização que, antes, orbitavam em torno de Serra.
Essa a razão de ter terminado em pizza a CPI do Banestado, que expunha personagens de todos os partidos.
Nesse imbróglio nacional, a posição mais sensível é a de Serra - e não propriamente para a opinião pública em geral, mas para seus próprios correligionários. Afinal, montou um esquema que em nada ficou a dever a notórios personagens da República, como Paulo Maluf. Jogou pesado para enriquecimento pessoal e da família.
Com as revelações do livro, quebra-se a grande defesa de Serra, algo que talvez a sociologia tenha estudado e que poderia ser chamada de "a blindagem dos salões". É quando personagens controvertidos se valem ou do mecenato, das artes, ou da proximidade com intelectuais para se blindarem. O caso recente mais notável foi o de Edemar Cid Ferreira e seu Banco Santos.
Serra dispunha dessa blindagem, por sua condição de economista reputado nos anos 80, de sua aproximação com o Instituto de Economia da Unicamp. Graças a isso, todos os pequenos sinais de desvio de conduta eram minimizados, tratados como futrica de adversários.
O livro provocou uma rachadura no cristal. De repente todas aquelas peças soltas da história de Serra foram sendo relidas, o quebra-cabeças remontado à luz das revelações do livro.
Os sistemas de arapongagem, que permitiram a ele derrubar a candidatura de Roseana Sarney no episódio Lunus; o chamado "jornalismo de esgoto" que o apoiou, as campanhas difamatórias pela Internet, as suspeitas de dossiê contra Paulo Renato de Souza, Aécio Neves, o discurso duplo na privatização (em particular apresentando-se como crítico, internamente operando os esquemas mais polêmicos), tudo ganhou sentido à luz da lógica desvendada pelo livro.
Fica claro, também, porque o PSDB - que ambicionava os 20 anos de poder - jogou as eleições no colo de Lula.
Todas as oportunidades de legitimação da atuação partidária foram preteridas, em benefício dos interesses pessoais da chamada ala intelectual do partido.

Assista a reação do próprio ao lançamento do livro...





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A repercussão ao desmascaramento do tucanato

O livro " A Privataria Tucana" do jornalista Amaury Ribeiro Jr. já  causa uma devastadora reação midiática em pólos antagônicos: o silêncio ensurdecedor da grande mídia podre de um lado, e na polaridade oposta o deleite da "blogsfera" e da "banda pobre" da imprensa. Festejado por aqueles que não aguentam mais os travestis da luta contra a corrupção nadarem de braçada nas cagadas de alguns governistas, o jornalista Amaury Jr. também já foi questionado por colegas seus como marqueteiro político pró-petista: 
"O livro “Privataria tucana”, da Geração Editorial, de autoria de Amaury Ribeiro Jr, é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação e dos blogueiros chapa-branca para criar um clima de mistério em torno de suas denúncias supostamente bombásticas, baseadas em “documentos, muitos documentos”, como definiu um desses blogueiros em uma entrevista com o autor do livro." 
Disse ainda Merval Pereira que "Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e oferta de vantagem a testemunha, tendo participado, como membro da equipe de campanha da candidata do PT, de atos contra o adversário tucano. O livro, portanto, continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista e, evidentemente, tem pouca credibilidade na origem." 
Dado a oportunidade ao contraditório, fico com Miro:
"O livro de Amaury Ribeiro não é apenas “uma luz sobre este passado ainda imerso nas sombras”. É um canhão de holofotes que devassa os subterrâneos da privatização, “o maior assalto ao patrimônio público da história do Brasil”. É a peça que faltava para entender o que ocorreu naquele período de êxtase neoliberal, de desmonte do estado, da nação e do trabalho.
Nas suas 343 páginas, um terço delas com documentos oficiais, o livro comprova que a privataria serviu para enricar meia dúzia de empresários, que concentraram ainda mais as riquezas, mas também para desviar recursos públicos para tucanos de alta plumagem, que se utilizaram de mecanismos engenhosos de lavagem de dinheiro e de paraísos fiscais."
Esta leitura está em minha agenda de férias. Pra repercutir com ainda mais humor o tema, acompanhe o lançamento do filme deste best seller brasileiro, por Cloaca News .




sábado, 17 de dezembro de 2011

Nota de agradecimento


Diante dos acontecimentos e vivências recentes em meu trabalho, busquei algumas palavras que, ressaltando seu sentido, apresentaram concreticidade em corpos, vidas, ações, palavras, sentimentos, sonhos:
Privilégio. 
Aprendizado. 
Doação. 
Companheirismo. 
Oportunidade. 
Caráter.
Infortunadamente, esse pronunciamento de um novo fazer pedagógico, um novo caminho para a educação física veio de encontro ao seu sentido mais antagônico, encerrando com o gosto mais amargo da pequena política recheada de velhas práticas que sempre combatemos e combateremos. Atos e demonstrações desproporcionais de força não são novidade para quem contenda com idealismo na base, no chão, na rua, nas fileiras, pela civilização e contra a barbárie. Essa opção é irreversível. E jamais solitária. 
Há uma canção da banda Foo Fighters  (mais uma...) chamada Best of You que expressa meu sentimento em relação a esta conduta e seus representantes. Ela diz:

Eu tenho outra confissão a fazer
Eu sou o seu tolo
Todos têm correntes para quebrar
Segurando você
Você nasceu para resistir?
Ou para ser abusado?

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?

Ou você se foi e virou outra pessoa?

Eu precisava de um lugar para me enforcar
Sem o seu laço
Você me deu algo que eu não tinha
Mas que não teve uso
Eu estava fraco demais para desistir
Forte demais para perder
O meu coração está preso de novo
Mas eu me libertarei
Minha mente me oferece vida ou morte
Mas eu não consigo escolher
Eu juro que nunca vou desistir
Eu me recuso

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?

(...)


Alguém tirou a sua fé?
É real a dor que você sente?
A vida, o amor, você morreria para se curar
A esperança que dispara o coração partido
Sua confiança?
Você deve confessar

(...)


Eu tenho outra confissão, meu amigo
Eu não sou um tolo
Estou ficando cansado de recomeçar
Em um lugar novo
Você nasceu para resistir ou para ser abusado?
Eu juro que nunca vou desistir
Eu me recuso

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?



(...)


Árdua tarefa é nomear sem cometer injustiças cada um dos que participaram deste processo cujo capítulo encerrou-se, sob o ponto de vista pessoal, com meu memorando de devolução expedido ontem, mas sob o ponto de vista deste magnífico coletivo, com a exoneração de seu "comandante" em 02 de dezembro último. Meu mais profundo agradecimento a cada um de vocês, companheiros e companheiras que viveram comigo esta história, tanto no cotidiano de trabalho como nas reuniões e encontros periódicos, assim como também aqueles que alicerçam este sonho há 20 anos ou mais, contribuindo para nossa formação profissional e humana...
Me permito pessoalizar esse agradecimento em nome do Tatu e do Daniel, companheiros que, além de estarem cotidianamente mais próximos, contribuíram muito paciente e carinhosamente para meu engrandecimento pessoal e profissional, desde outrora avalizando minha identidade neste grandessíssimo projeto. Há braços, companheiros! A luta sempre continua! Estamos e estaremos juntos.


neste momento, este é meu grito


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poema


Para o meu amor.

Times Like These
Foo Fighters 

Eu sou uma rodovia de mão única
Sou uma estrada para longe
Que segue você de volta para casa

Eu sou uma luz de rua acesa
Sou uma luz branca ofuscante
Piscando sem parar

Em tempos assim,
Você aprende a viver de novo.
Em tempos assim,
Você se entrega e se entrega de novo.

Em tempos assim,
Você aprende a amar de novo.
Tempos assim
Outra e outra vez

Eu sou um novo dia nascendo
Sou um novo céu que
Abrigará as estrelas esta noite
(...)
Em tempos assim,
Você aprende a viver de novo.
Em tempos assim,
Você se entrega e se entrega novo.

Em tempos assim,
Você aprende a amar de novo.
Tempos assim
Outra e outra vez.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O exemplo de Sócrates


O dr. Sócrates não pode ser eleito como um jogador de futebol à frente de seu tempo, mas fora de tempo, pois como ele poucos exemplos (sinceramente, não me recordo de nenhum) possuíram uma conduta revolucionária dentro desse campo de trabalho. Sua visão não demonstrava ser mercadológica nem marqueteira, como os oportunistas exploradores e bandidos que circulam neste meio, mas sim qualitativa  em relação ao exercício do trabalho do jogador de futebol, ofício que ele exercia não como alternativa única de posicionamento social, mas como atividade de prazer. Já a faculdade de medicina lhe garantiu um futuro profissional diferenciado em relação aos seus pares. Ele teve condições materiais, familiares, econômicas, sociais, de discernir sobre que alternativa escolheria para se posicionar em sua vida profissional após o término da carreira de jogador. Isto não ocorre entre (estimativa jocosamente pessoal) 99,1% daqueles que se lançam na carreira profissional de boleiro.
Há de se ressaltar a extrema dedicação e competência pessoal para conciliar a carreira de jogador profissional e o estudo da medicina.. A prática profissional de futebol com maior embasamento político certamente obteve maior consistência com a soma de todos esses fatores. Divago se ele não fazia a indagação: "qual a merda da diferença entre o trabalho do médico, do jogador de futebol, do lixeiro, do professor"? Ou ainda "porque apenas as profissões mais conceituadas têm oportunidade de diálogo em relação ao exercício de seu trabalho?"
Ele foi iconizado como o Doutor da bola e da democracia.
Suas declarações e posturas deixavam claro que ele estava se lixando para o moralismo que encharca nossa sociedade: fumante e bebedor de cerveja, e ainda por cima atleta e médico.  Poderia ser análogo ao exemplo do professor de educação física obeso, ou do lixeiro culto. Que tapa maior no conservadorismo do senso comum poderia ser dado, que rompimento de paradigma mais explícito poderia ser demonstrado naquele momento histórico, na verdade, em nosso momento histórico? Ao fazer isso e incitar outras ações como a Democracia Corintiana ele acabou dialeticamente reforçando uma demanda histórica então emergente por liberdade e protagonismo social mas, ao mesmo tempo, reforçando a concepção que a transformação, de fato, emana de quem tem condições para tal, e não do povo que é pobre, lascado e mal instruído. E dessa responsabilidade ele tinha clareza. 
Outros jogadores que também lutavam por liberdade de expressão, de exercício livre de seu trabalho e de sua vida pessoal foram estigmatizados como encrenqueiros, indisciplinados, arruaceiros, vagabundos, violentos, ou o que lhe valha. Não eram doutores, mas pobres que encontraram no futebol alternativa única de ascensão socioeconômica. Gosto de citar o exemplo de Edmundo, pois ele se enquadra perfeitamente neste exemplo. Craque de bola, inteligente, mas... Animal. Como ele tantos outros, eu incluso, que querem apenas exercer bem o seu trabalho e, após o compromisso, tomar uma gelada com a família e os amigos, curtir um cineminha, levar os filhos ao parque. Sócrates também. Animal, certamente também.
O engajamento político é, inevitavelmente, o o legado mais marcante do doutor da bola. Exímio craque de bola, ele botou pra F. nas fileiras reacionárias daqueles que gerenciavam o "departamento profissional" do clube em que jogava, democratizando radicalmente as decisões sobre o exercício do trabalho. E apresentou resultados efetivos que agradaram a todos: torcida, trabalhadores da bola e dirigentes (pois o retorno midiático e financeiro foi incontestável). Esse grupo e seu líder demonstraram que o trabalho pode ser exercido de forma plena, liberta e democrática, no sentido de oportunizar o diálogo e a tomada de decisões colegiadas junto aos co-partícipes daquela pequena sociedade.
A Democracia do dr. sucumbiu a interesses econômicos e mercadológicos presentes no meio futebolístico de alta competitividade. A gestão do futebol, ao se profissionalizar sob a orientação da lógica neoliberal liderada e avalizada pela FIFA e pelo COI, mediou interesses dos trabalhadores, patrões e mercadores do esporte. Dessa forma, assim como no mercado de trabalho, os direitos e obrigações dos trabalhadores do esporte de alto rendimento são conceitualmente compatíveis com a dos demais trabalhadores. Ou seja, prevalece a lógica do patrão.


A lição

Os projetos para a educação física da rede pública de ensino Distrito Federal que passou recentemente (em seus níveis diversos - desde sua direção até ao piso batido da quadra) por um processo de reestruturação semelhante a Democracia do dr. Sócrates, tais como o surgimento de formações, de manifestos pedagógicos, reformulação de seu currículo, reforçamento de ações na educação física escolar, desporto e jogos escolares e ampliação de sua intervenção para todos os níveis de ensino, tem sinalizado um possível sucumbimento frente a declarações e acontecimentos recentes, emanados de poderes que mediam os mesmos interesses referidos acima. Porém , mais do que prazer ou direito social, como Sócrates transmitiu em sua vida profissional, mas também por ideologia e justiça, essa luta que é representada por esse projeto histórico não sucumbirá, esteja no campo de ação que estiver. O poema representa meu sentimento frente a esse golpe.