quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Consciência no trabalho em EdF

O texto a seguir é o desabafo de companheiro professor de Educação Física da DRE de Samambaia, Daniel Corrêa, que contextualiza a busca desenfreada de nossos tempos por saúde e estética com os riscos impostos por esse insano consumismo. Talvez em nosso DNA não estejam apenas os riscos para nossa fisiologia, mas também para nossa auto-destruição como sociedade.
É fundamental que todos os trabalhadores em Educação Física, seja em qual campo de intervenção (escola, academia, hospital, manicômio, cabaré, etc) tenham essa ou minimamente alguma consciência crítica sobre a conseqüência histórica daquilo que se propõem a trabalhar. Parabéns Daniel por esse grito! Que seja apenas o primogênito de uma grande batalha pelo trabalho consciente, crítico e humanizador.


A HERANÇA GENÉTICA DO CAPITALISMO

Em decorrência da vida agitada, da correria do dia a dia, do pouco tempo em resolver os problemas no trabalho, de um hábito alimentar não adequado e de comportamentos herdados devido aos símbolos distorcidos, nos deparamos com o mundo capitalista. Sejam bem vindos a observar sobre a ótica da terceira lei de Newton (ação e reação) com relação às respostas fisiológicas de padrões estéticos determinados pela sociedade moderna. Remédios como as anfetaminas para emagrecer, cirurgias plásticas, produtos para beleza, cintas Dr. Hollywood, equipamentos de ginástica, o light, o diet, dietas, são fomentados por padrões de beleza impostados em nossa cultura pela obtenção de qualidade de vida a qualquer preço.  Comer é uma necessidade fisiológica, isso significa do ponto de vista econômico que é um segmento lucrativo no mercado, os traficantes conseguiram separar o açúcar da cana, tá certo, é um prazer, mas que preço paga-se por esse prazer. Enfim produziram um dos maiores e poderosos depressores químicos da atualidade, pois o açúcar é uma droga, portanto bem sugestivo aos olhos da ganância, pois esta gera dependência química, bem vindos ao grupo dos chupeta de baleia, rolha de poço, gordinhos, gorduchos, chocólatras, cardiopatas, hipertensos, diabéticos... De fato, a indústria produz maciçamente alimentos ricos em açúcar (carboidrato simples de absorção rápida). Por que será? Por apenas ser mais gostoso? Ou por induzir ao consumo desenfreado deste produto? Quem não se lembra do chocolate biss, não comece com o primeiro. Quando ingerimos açúcar, induzimos nosso pâncreas a produzir intensamente um hormônio chamado insulina, responsável pela diminuição dos níveis de glicose no sangue, pois o excesso traz prejuízos à saúde. A glicose em excesso será armazenada na forma de gordura, por conseguinte, atingimos um estado de hipoglicemia (quantidade de açúcar no sangue abaixo da normalidade), condição perfeita para nos alimentarmos novamente. Pronto! Estamos com fome! Deflagramos então, um ciclo perigoso para o ganho de peso. Ciclo este que extraordinariamente se estende para outros rumos. Você já não se olha como um modelo que se adeque a padrões de beleza em circunstância do ganho de peso, somado aos mais diversos estressores como insatisfação no casamento, a falta de Feed - Back no trabalho ou até mesmo dificuldade nas relações interpessoais sadias e etc., decepção e frustração garantida. Você pode estar a um passo de uma depressão! Em uma situação de depressão, o organismo produz hormônios estressores de maneira crônica que por conseqüência inibem a metabolização com predominância das gorduras, dificultando o emagrecimento. Cruel. Mas a perda de peso em decorrência da metabolização das gorduras está comprometido, reduzindo a perda de peso apenas à desidratação (perda de líquido). Na tentativa impetuosa de emagrecer, a indústria é a salvação da pátria, oferecendo os mais diversos produtos para atender suas expectativas. O detalhe é que somos iludidos a comprar qualidade de vida enquanto só a adquirimos pela conquista da mudança do estilo de vida, difícil compreensão em um ambiente de materialismo onde o ser se confunde com o ter e a verdadeira intenção do mercado é mascarada pelas vias de comunicação e marketing, contribuindo para comportamentos indesejáveis quanto do ponto de vista do consumo e conseqüentemente da saúde.  Pronto! Entramos na fase final de nossa herança genética. Você já não se olha no espelho, já não tem a melhor convivência social, sua auto-estima também já não é das melhores. Enfim, já não conseguimos obter prazer nas pequenas coisas da vida, e aí? Você vê aquele bolo..., nossa que maravilha! Necessitamos obter prazer, caso contrário vamos de encontro ao ceifador, você resgata estes momentos de prazer inconsciente como última instância de salvação para não se entregar. Você vai comer o bolo todo, mesmo que logo depois venha o arrependimento, mas você atingiu seu objetivo do prazer momentâneo, como ultimo suspiro. Agora você entra no mercado dos farmacológicos, que alivio não? Medicamentos, antidepressivos apenas eliminam as conseqüências mais não resolvem as causas, amenizam uma situação de autodestruição. A conseqüência genética com relação ao ganho de peso é que dizemos para nossas células de forma inconsciente para salvar o máximo de energia. O detalhe é que seu DNA vai ser repassado para seu filho - herança genética - o que vai acontecer? Pelo menos do ponto de vista genético ele vai ter mais um fator favorável ao aumento de peso, o detalhe é que às vezes não paramos para pensar que o determinismo está implícito em nosso sistema social nos tornando vítimas, perpetuando o ciclo do consumo inconsciente até que um fio de luz nos abra os olhos, fio de luz que chamo o despertar da consciência oportunizando a revolução das idéias resgatando a realidade, quem sabe uma nova perspectiva e sentido para vida. 

Daniel Corrêa e Castro Soares. 
Professor de Educação Física SEE-DF - NDEIC-SAM
http://drewebsam.blogspot.com/

5 comentários:

  1. É mister que em nossa(s) formação(ões) esteja(m) presente(s)o discernimento que o mercado em educação física estrangula nosso lado professor e destaca nosso lado "profissional da saúde". É necessário o discernimento que o médico só não exerce seu lado "professor" porque caso contrário não pagaria a prestação de seu carro importado. Cabe a cada trabalhador e trabalhadora em educação física escolher se continua na periferia da área de saúde ou assume seu verdadeiro caráter de educador. Já é tempo, não?

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  2. Muito bom texto, eu pensei muito quando engravidei e meu médico mandou fazer uma super dieta para conseguir manter uma boa saúde e preservar meu filho desses tóxicos, e apesar de ser vegetariana há mais de 10 anos e concordar plenamente com o consumismo inconsciente que esse sistema capitalista nos impõe, precisei refletir muito nos meus hábitos chocólatras, filha de culinarista, não é fácil desconstruir um ideal de sobremesa em família. Ser vegetariana já é uma luta socialmente pouco aceita, e ter um padrão de consumo saudável me fez chorar, gestante, com desejo de comer mais bolo de chocolate. Infelizmente, essa teoria do desejo é verdadeira. Pensei que fosse piada de mulheres,mas percebi, que meus maus hábitos de infância e adolescência estavam impregnados na vontade de consumir. Hoje, meu filho com 1 ano e 8 meses adora as mesmas porcarias... sorvetes, chocolates e bolos, que evito ao máximo, mas nem sempre posso controlá-lo, já que ele é um ser social que frequenta creche e casa de outras pessoas...

    O que fazer, nesses casos? Como conscientizar a família pra melhorar os hábitos alimentares, sendo que apenas eu sou assim?

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  3. Emmanuela, obrigado por compartilhar sua reflexão sobre o texto de nosso companheiro Daniel Corrêa em forma de depoimento pessoal! Sim, ele tem razão, essa correlação doentia e orgânica vício/consumo nos conduz à deflagração de nossa falência individual e social. Me compadeço ao perceber que não estamos sozinhos nessa luta, nesta seara da contra-revolução da "liberdade" de consumo, artigo 1° do estatuto do capitalismo. A consolidação do direito à saúde, antes da queda deste sistema social, deve passar pela honesta regulação por parte dos órgãos de vigilância sanitária da exposição, venda, consumo e principalmente, informação sobre esses produtos. Pois isso assola não somente nossa saúde física e psicológica (em alguns casos psiquiátrica), mas também a dos nossos filhos. E isso dói. Sabe que meus filhos de 5 e 6 anos estão com colesterol elevado? Isso dói demais. E, após o martírio da autocondenação como pai, refleti que a culpa não é minha, sozinho, mas sim desse modo de vida. Cair nesse enfrentamento é uma seara assim como você relatou e também como espírita sabe disso... Pois a consciência é revolucionária tanto para o espírito quanto pra qualquer campo da nossa vida mundana, já que a injustiça, a falácia, a desonestidade e a subjugação estão em vantagem histórica.
    Acredito que devemos mediar os maus hábitos alimentares, de conduta, de caráter presentes em nosso cotidiano e dos nossos filhos para que eles possam crescer com a maior liberdade e criticidade possível, assim como enfrentarmos com dignidade e coragem as conseqüências por assumir nossa crença em uma sociedade mais justa. Isso porque acredito, Manu (se me permite chamá-la assim), que a cláusula primeira do "pré-contrato" de nossa existência é fazer o bem. E estou convencido que a consciência revolucionária é um caminho para isso. Abraços!!!

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  4. Bela reflexão. São atitudes que já estão impreguinadas no nosso subconsciente. Só atraves da busca do conhecimento e do discernimento para escapar dessas armadilhas constantes. Muito bom. Parabéns e obrigada.

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  5. Texto inteligente e atual! Consumismo nada mais é que comprar aquilo que não necessitamos de fato e às vezes até sem termos condições financeiras. Tal motivação, porém, é advinda da necessidade de se sentir incluído no meio, ser mais um do mesmo.... inclusive se para isso tenha que viver de falsas aparências.

    Quem nunca ouviu que mulheres se arrumam para outras mulheres? Infelizmente estamos numa sociedade em que a vaidade se confunde com amor próprio. Onde status vale mais que a felicidade íntima ou coletiva. Ocorre uma inversão de valores, que eu concordo em partes que está no inconsciente manipulado pelos meios em massa, mas também está no comodismo da inércia social. Herança genética do capitalismo sim, mas antes de uma herança já existe algum legado construído.

    Sobre a relação da capitalismo com a indústria alimentícia e farmacêutica é claramente notória. Volto novamente no ponto de que a vaidade não pode se sobressair à real idéia de felicidade. Eis que os indivíduos para serem felizes necessitam primeiramente da saúde, a qual tem ficado de lado para coroar a beleza midiática imposta. Uma pena!

    Novamente elogio o texto do prof. Daniel, e parabenizo o blog. Acredito que reflexões assim devam ser aplicadas em todos os segmentos... com destaque ao campo jurídico, cuja atuação é a positivação das condutas.

    Parabéns!

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