Neste fim de semana revi a reprise ("rever a reprise" na televisão deixou de ser redundância...) do filme Kill Bill 2, onde a super-heroína Beatrix Kiddo mata meio mundo pra se vingar de seu amor-algoz Bill. Na seqüencia final, muito bem tramada por Quentin Tarantino, Bill faz um poético relato sobre o alterego da humanidade, citando a "mitologia" dos super-heróis. Ele relata que o Superman, cujo alterego é o Clark Kent, simboliza o quanto o ser-humano é fraco é covarde. Ao contrário dos demais heróis cujo alterego é o super, tendo em vista que Bruce Waine, Peter Parker, Bruce Bunner, etc, dormem e acordam como tais, vestindo-se de super para salvar a humanidade. Superman dorme e acorda superman, fantasiando-se de Clark Kent para "humanizar-se". E Clark Kent é fraco, medíocre e covarde. Ele é o alterego humano de superman, ou sua crítica à humanidade.
Enfim, Bill usa desse argumento para justificar que é um assassino nato, assim como Beatrix, etc e tal. Mas, como humano que sou, e inquieto também, incitou-me a reflexão sobre este argumento (a propósito, genial) e o atual cenário político de nossa cidade. De que adianta trajar-se com uma coloração diferente para apenas legitimar-se no poder? Quem é o alterego de quem?
Não arrisco-me a fazer qualquer análise acadêmica sobre a psiquê humana, mas tenho fé que a projeção que fazemos de nós mesmos, de uma forma ou de outra, acaba materializando-se em nossas ações. O trabalho, que no modo de produção capitalista é alienado e expropriado de quem o realiza, há de possuir algo de quem o manufatura. Conceituo aqui trabalho o fruto da ação de cada ser humano, por mais alienada que seja. O ser civilizado pela barbárie possui seu alterego no sujeito-consumidor, ou é levado a construir-se tal maneira. Algo há de ser legítimo e próprio de quem o faz. Viagem absoluta.
No caso das circunstâncias recentes, questiono: o poder é intrinsecamente ou legitimamente sentimento humano? O quanto? De quantos? Quem tramou tudo isso?
O que reflito é que não podemos nos submeter à desesperança diante de tais circunstâncias, que por mais que nos desalentem, compõe a culminância de um processo histórico, ao qual não nos alienamos, mas também compomos, apesar de não corroboramos em sua integridade. Entretanto nosso trabalho, que nada mais é do que a concretização de nossa apreensão de mundo, síntese de nossas experiências, não há de ser descartável nem efêmero, não poderá estar à venda tampouco ser despojado de valor. Meu trabalho de alguma forma, em algum momento, me pertence. Há de me pertencer e me satisfazer como ser humano. Independente de Tadeus, Agnelos, Joaquins, Josés Robertos, Luízes, etc. É necessária essa a crença. Para que minh'alma respire.
Chamem de ingenuidade ou o que lhe valha. Se votei em quem jamais achei que votaria (Tadeus e cia), e hoje pagamos esse preço, é porque acredito em algo maior. É este algo que ajudo a construir com meu trabalho, despropriado de terceiros e referenciado em meus sonhos utópicos de mundo. Meu alterego há de ser aquilo que sonho e projeto através de meu trabalho, assim como os super-heróis humanos, e não aquilo que se tenta demonstrar através da coloração oportunamente trajada. Como o superman.
confira o vídeo de Kill Bill 2 supracitado
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