quarta-feira, 14 de março de 2012

Placebo: educação no novo(?) caminho.


As atitudes dos atuais gestores da educação pública do Distrito Federal culminaram na greve dos professores deflagrada em 08 de março último e em vigor desde o último dia 12. Tenho sido testemunha e também vítima de algumas dessas demonstrações. A foto acima, por exemplo, é a expressão dos alunos da última escola por onde passei, os quais foram vítimas de uma higienização orquestrada nos gabinetes de alguns dos altos encarregados da SEDF. E isso não pode, mais uma vez, cair no interstício da recente história de desmandos e trapalhadas que tive o desprazer de testemunhar.
Minha inquietude não permitiu que me calasse, pois atitudes como essa não podem dar amparo a políticas públicas para a educação, tampouco legitimar qualquer grupo político de esquerda. Entendo ser inadmissível que essa desorganização, oriunda de interpretações equivocadas de gestão escoradas em velhas práticas políticas, culminem nesse abandono e destrato ao ser humano. Poderia, mas preferi não me aprofundar no ECA para citar mais adjetivos que poderiam ser elencados nessa situação. O caso foi grave.
Muitas escolas da periferia são melhores
 que a maioria das do Plano Piloto, como manifestado
por eles ao desembarcarem na "ilha da fantasia"
Essa indignação resulta da compulsória transferência de estudantes em defasagem idade-série (ou seja: repetentes) da Regional de Ensino do Paranoá para uma escola sem a menor estrutura material, administrativa ou logística para acolhê-los. E, acreditem se quiser, ficaram três semanas largados ao relento sem metade dos professores, ou ainda sem sequer terem sido recebidos pela direção na porta da escola! Nem um mínimo "boa tarde"! Tremendo desrespeito. E incompetência. Ainda pior, a lição transmitida de forma explícita àqueles educandos foi: suas vidas não são definidas por vocês e sim pelos gabinetes políticos (quiçá mesas de bar); as migalhas que o poder público oferece são dessa qualidade, quer vocês gostem ou não; os critérios para distribuição dessas migalhas são subserviência, conformismo e conivência.  Essa atitude jamais poderia partir de um governo que se auto-afirma democrático e popular, o qual elegi e compus administrativamente no ano de 2011, e onde presenciei também a metástase de células rorizistas. E essa maldição me prejudica pessoalmente até hoje.
As células da metástase rorizista ganharam sobrevida com a aliança maldita composta na eleição de 2010, o que impossibilitou ou engessou a ação de alguns gestores do GDF no início de seus mandatos, o que hoje se manifesta nessa diarréia de ações mal concebidas e antagônicas ao pensamento revolucionário, de radical marxista e ontologicamente democrático. Companheiros nossos já declararam: "um novo caminho, velhas práticas".
A culminância dessas velhas práticas foi a deflagração da greve dos professores e professoras da rede pública do DF, surpreendidos com atitudes reacionárias e antidemocráticas concebidas em sua origem por governos anteriores, que representam o contraditório de nossas crenças e práticas políticas. Não acredito que o uso da força bruta, verticalização das decisões e falta de diálogo possa legitimar positivamente qualquer grupo político, debilitando companheiros históricos e fortalecendo a coalizão e o "fogo amigo". Isso leva à convalesceça de nossos propósitos democráticos e populares.
Também não é implementando o senso comum, mesmo que outrora revolucionário, e hoje possivelmente anacrônico, que se alicerçará um novo caminho. Digo sobre os exemplos vividos em meu nicho de atuação, a educação física, aplicável a outras esferas da educação pública (como o desarranjo ilustrado acima). É preciso o discernimento que a ciência e o pensamento reacionário modernizaram-se, e pior, travestidos de salvação do conhecimento e ciência humanas. Então reafirmo, não é possível construir um novo fazer na direção da emancipação de forma vertical, e por grupos que desejam apenas legitimar seu pensamento, muitas vezes obsoletos para a demanda da revolução, ainda que oriundos da academia. A educação física e a gestão central da SEDF dão sinais que isto está mais vivo do que nunca. A resposta para isso está nas ruas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Novo golpe contra Ricardo Teixeira

grato a Blog do Miro
http://altamiroborges.blogspot.com/2012/02/novo-golpe-contra-ricardo-teixeira.html

Da revista CartaCapital:
A batata de Ricardo Teixeira está no forno mais do que nunca. Primeiro, uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que o presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local da Copa) tem ligação com a Ailanto Marketing, empresa contratada sem licitação pelo governo do Distrito Federal, então do governador José Roberto Arruda (DEM), para organizar o amistoso entre Brasil e Portugal no estádio Bezerrão, no Gama, em novembro daquele ano.

Nesta sexta-feira, o blog do jornalista Juca Kfouri no UOL mostrou que o dono da Ailanto Marketing, o espanhol Sandro Rosell (atual presidente do Barcelona FC, ex-diretor da Nike no Brasil e sócio da Ailanto), depositou 3,8 milhões de reais na conta da filha de 11 anos de Ricardo Teixeira, no ano passado.

A Ailanto recebeu 9 milhões do governo de José Roberto Arruda para fazer o jogo. À época, além da ausência de licitação pública, causou forte estranheza o fato de a Ailanto não ter qualquer experiência em organização de eventos desse tipo. E, como se não bastasse, corre uma investigação no Tribunal de Contas local sobre um suposto superfaturamento na realização do jogo.

A Alianto foi também sócia da VSV Agropecuária, que tinha sede na fazenda de Teixeira em Piraí (RJ). A sócia da empresa é a secretária de Rosell, Vanessa Precht, que, segundo a Polícia Civil, emitiu cheques em nome do chefão da CBF.

É grande a chance de Ricardo Teixeira deixar o comando da CBF e do COL. Miami é seu provável destino, já que, segundo Juca Kfouri, sua filha de 11 anos, tem ouvido comentários desagradáveis na escola a respeito do pai.

Pois então... o cerco tá fechando contra esses lacaios. Vale a pena conferir o trabalho da Associação Nacional de Torcedores e Torcedoras, entidade da sociedade civil que desde 2010 luta de forma organizada e consciente pela moralização do futebol no Brasil. Um dos baluartes de sua luta é a investigação  do senhor supramencionado. Endereço: http://www.torcedores.org.br/

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Armadilha midiática, Revolução no Egito e Educação Física Escolar


A tragédia ocorrida em um estádio de futebol do Egito após a equipe de maior prestígio e mais vezes campeã naquele país ser derrotada, e a sequente invasão do gramado por torcedores da equipe vencedora tem sido alardeada em nossa grande mídia como mais um caso de violência no futebol. Mas é necessário recorrer à análise da notícia de maneira histórica, pois os jornalistas esportivos de nosso país, que têm-se prestado ao papel de mero reprodutor de notícias, são incapazes de fazer a leitura correta e contextualizada dos acontecimentos. 
Esse não foi um acontecimento simplesmente de ordem esportiva ou sóciocultural como o caso das brigas entre torcedores em nosso país. Esse é um problema político, tendo em vista que o Egito vive há cerca de dois anos a instabilidade política e social. Não há emprego, não há perspectiva, não há governo, impera-se o clima de anarquia no país, os serviços básicos estão precários, e há disputa política por hegemonia entre diferentes grupos para se estabelecerem no comando do país, além de conflitos freqüentes com as tropas do governo.
Além de tudo, o time derrotado Al Ahli estabelece a hegemonia do futebol há muitos anos, e o povo egípcio derrubou há um ano, e na porrada, o governante Mubarak que estabelecia a hegemonia  política do país!  Hegemonia no esporte e na política significam acúmulo de renda e autoritarismo, e isso significa pobreza e revolta. Ouvi a entrevista do jogador brasileiro que estava em campo relatando que entre os torcedores havia muitos xingamentos, ofensas, expressões de cunho racial, étnico, bairristas, o que demonstra que este não foi mais um caso de violência no esporte, e sim de violência social.
Alguns jornalistas (e não "comentaristas esportivos") se apropriaram das estórias de violência no esporte como algo pertencente à esfera de comportamentos baníveis da sociedade, cuja entidade esportiva deve legitimamente bani-la, ou varre-la pra debaixo do tapete. Não vislumbram (ou não divulgam) serem manifestações que exprimem o sentimento de atores sociais, a forma como reagem à própria sociedade:  trabalho, educação, lazer, saúde, cultura, relacionamentos inter-pessoais, etc. Manifestações de violência são execráveis, mas denotam a manifestação daquilo que é construído e vivido socialmente; pertence à raça humana, e assim como outros bons ou maus comportamentos, e apresentam-se onde há intervenção humana. No esporte inclusive.
Analistas esportivos não conseguem ou não querem discorrer sobre isso, ou, se sabedores, devem ser severamente proibidos de discorrer a respeito. Minha preocupação é a reprodução desse modelo de análise nas salas de aulas, onde nossos companheiros e companheiras professores são induzidos à fragmentação dos acontecimentos. Fico à vontade para falar em relação aos meu pares de Educação Física, onde muitos insistem em deixarem-se educar através "professores" do globo esporte, terceiro tempo, redação sportv, troca de passes, etc. 
De fato as torcidas organizadas de times de futebol no Egito tiveram papel fundamental para a revolução que derrubou o ditador Mubarak no ano passado, ou seja, o futebol foi pretexto para que pessoas com propósitos democráticos encontraram para reunirem-se e fortalecerem-se como grupo de livre expressão e legítimo em um país sob regime ditatorial, conforme analisou Eduardo Febbro para Carta Maior:

"Nas horas mais violentas da segunda fase da Revolução egípcia que fez da praça Tahrir o seu território de rebeldia, as torcidas organizadas egípcias atuaram como a tropa de choque que se enfrentou com a polícia nos combates mais cruentos que estouraram nos acessos à rua Mohamed Mahmud. Essa via conduzia ao Ministério do Interior e era, tanto para os manifestos quanto para a polícia, um lugar estratégico. Sem aqueles jovens de 20 anos fanáticos por futebol e oriundos dos bairros pobres do Cairo, sem sua cultura aguerrida dos enfrentamentos, a praça teria caído nas mãos da polícia. As torcidas organizadas que surgiram na América Latina nos anos 70 apareceram recentemente no Egito. Os primeiros grupos apareceram em 2005 e, quase imediatamente, entraram para a oposição ao regime do deposto Hosni Mubarak e aos membros de seu braço político, o Partido Nacional Democrático (PND).

Incontroláveis pelas estruturas patriarcais que dirigem os clubes de futebol, a maior parte das vezes aliadas de uma ou de outra forma com o regime, hostis ao comando do PND, furibundos contestadores da autoridade policial, a qual desprezam por sua endêmica corrupção e pela brutalidade insensata com que atuava, os « ultras », como são conhecidos, desenvolveram uma estrutura poderosa, rebelde e violenta. 

Autônomos nos planos político e material, já que não dependem dos clubes com os quais simpatizam, eles fizeram da guerrilha contra as forças da ordem um estilo de vida. Seu desenvolvimento foi tão rápido quanto sua capacidade de se organizar. Os analistas egípcios davam conta de que, depois da Irmandade Muçulmana, os clubes de torcedores que nasceram nos meados do ano 2000, eram as estruturas mais organizadas do país. Duas torcidas se destacam entre todas : a White Knights, dos torcedores do clube Zamalek SC, e a dos torcedores do Al Ahly Sporting Club, um dos grupos envolvidos no massacre de Porto Said.

Em outubro e novembro do ano passado, em plena revolta da Praça Tahrir, Carta Maior compartilhou com esses torcedores momentos de uma extrema violência e de uma grande solidariedade interna. Poucos dias antes das eleições que marcaram o ingresso do Egito em um sistema democrático mais aberto, os revolucionários de janeiro de 2011 voltaram a ocupar a praça para exigir da junta militar mudanças substanciais no dispositivo eleitoral, assim como a entrega imediata do poder aos civis. A polícia respondeu com mais virulência do que nas revoltas que desembocaram na queda de Hosni Mubarak. Mas as torcidas organizadas estavam ali para defender a praça Tahrir. Nada os dissuadia : estavam perfeitamente treinados para suportar os gases lacrimogêneos, pular paredes, atirar pedras e se chocar diretamente contra as unidades policiais especializadas em repressão urbana. 

A Revolução egípcia unificou as trocidas por cima das rivalidades clubísticas. « Eles foram os atores determinantes da Revolução de janeiro. No dia 25, sem que ninguém os chamasse e sem que houvesse uma consigna posterior, eles vieram para defender a Praça Tahrir e dali não se moveram », lembrava Tamer, um advogado recém formado. Sua presença ficou gravada nos muros do Cairo junto aos grafites da revolução. 

A consiga dos ultras, ACAB (All Cops are bastards, Todos os policiais são bastardos) ocupa tantos lugares quanto as consignas revolucionárias.
Graças à internet, aos telefones celulares e às redes sociais, a capacidade de mobilização destes grupos é tão massiva como instantânea. Os três principais nucleos de torcidas organizadas, Ahlawy, White Knights e Blue Dragons, atraem dezenas de milhares de pessoas em um piscar de olhos. 

Calcula-se que esses três grupos são capazes de reunir cerca de 20 mil pessoas e levara para a rua mais de 50 mil. Sua influência chegou a tal nível que, durante os últimos anos de Kubarak, a policia ia prender os líderes das trocidas em suas casas e os julgava logo em tribunais militares.

Os torcedores radicais da equipe do Cairo, Ahly, e os do Zamalek foram os que mais se comprometeram no combate contra Mubarak. Não parece ser um acaso que tenham sido agora objeto de uma vingança sangrenta ante à passividade cúmplice da polícia. Omar, um cairota de 20 anos, membro dos White Knights, dizia em novembro de 2011 que a polícia egípcia era « uma assassina » e que se havia algo que era preciso mudar com urgência no país era « limpar esse corpo de torturadores e corruptos ». Gasser Abdel Ruzek, um dos dirigentes da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, contava no ano passado que os torcedores de futebol passaram da condição de fanáticos de um clube para a de « soldados » da liberdade."

Texto de Eduardo Febbro
Tradução: Katarina Peixoto

Excetuando a barbárie que vitimou mais de setenta cidadãos egípcios, cujas mortes, em sua maioria decorreram do tumulto e não do confronto, é honesta a contextualização dos fatos históricos que se reproduzirão em sala de aula, ainda que sob a chancela do(a) educador(a)-mediador(a), mas o quão possivelmente livre da chancela midiática, que hoje em dia exerce grande influência em nosso campo de atuação, qual seja, as diversas manifestações corporais humanas (dentre elas o esporte) cuja direção deve apontar para a emancipação. Assim originalmente propuseram os grupos organizados de torcedores egípcios. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Barbárie


Eu fiquei horrorizado com a retirada bárbara das famílias  em São José dos Campos, SP. Vale nossa indignação e repúdio. Grato a Maria Inês Nassif.
DEBATE ABERTO

O horror e a opção preferencial contra os pobres

Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.

É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.


A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga. 



O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas - inclusive de alvernaria - das quais os moradores foram expulsos. 



Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A "Cidade Limpa" de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.



A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. 



O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional. 



Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta - e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete. 



O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.



Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se). 



Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, "reage" com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.


Meu irmão Léo "Corba" Freitas categorizou com seu humor e sagacidade peculiares o comportamento dos lacaios burgueses do estado de São Paulo. Vale a pena conferir no Glossário da Burguesia Paulista  em  buldozer.blogspot.com

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O retorno de Jedi

Após um longo período de ostracismo apresento minhas desculpas aos meus cinco leitores (estatística pessoal...) por esta longa ausência, desejando que em 2012 a todos tenham seus melhores desejos realizados. Justifico-a através da mudança de endereço que passei recentemente, a realização de uma aspiração pessoal de longa data, oxigenação necessária para qualquer ser vivo como eu. Mudanças, viagens, novas paixões, significa beber a vida aos goles e não à conta-gotas como estamos habituados a fazer, e nos dá alento para seguir na batalha cotidiana por nosso ideais. Pois, como diz a canção, "Em tempos assim, Você aprende a viver de novo."

Vale a nota sobre a leitura de A Privataria Tucana que também auxiliou nesta oxigenada, pois o livro é esclarecedor sobre o modo operante da burguesia lacaia através da narrativa empolgante do autor, repórter investigativo que consegue relatar os fatos envolvendo o interlocutor em suas descobertas jornalísticas com um enredo que diz respeito a nossa própria história. Leitura agradável, provocadora e honesta. Pretendo dar sequência à safra leituras com o curioso "Guia politicamente incorreto da história do do Brasil", livro que comprei em uma promoção de fim de ano e ainda encontra-se encaixotado em algum canto da casa...

Espero que neste ano possa elevar o debate em torno de educação física no Distrito Federal, e que este seja um canal para diálogos e construções. Estarei compartilhando minhas aventuras e a apreensão da realidade através de minhas possibilidades neste espaço. Para dar boas vindas aos trabalhos prementes, compartilho algo que há bastante me provoca e norteia enquanto professor que busca humanizar seu trabalho. E ainda continuarei.

Stanlei* 8ª A negro 
Trabalho realizado com turmas de oitava série, resenha do filme Quanto vale ou é por quilo? Brasil, 2005, drama, direção de Sérgio Bianchi

A escola será mesmo um lugar de oportunidades para todos? 

Para alguns não foi. Pois eram tratados com indiferença, como se não existissem. 

Ainda me lembro de minha segunda série, na aula de português, todos se sentavam em dupla, e eu no entanto estava sozinho, eu não entendia, mas acho que era pelas minhas condições, um chinelo remendado, as perna ressecadas, a camisa rasgada, enquanto os outros: sapatos novos, uniformizados, com perfumes cheirosos, e eu chorei, quando ouvi um murmuro na mesa de trás (olha o neguim ta chorando), aquilo me cortou por dentro. Mas com o tempo eu aprendi que não vale a pena me entristecer por causa disso, e comecei a superar.

Quando na quinta série o ato de desigualdade, pois “aonde tem o mais alto tem o mais baixo que o ajudou a crescer”, e eu cheguei na sala triste pois meus pais haviam discutido na noite passada e eu sentei e fiquei calado, quando levantei percebi que colaram um chiclete na minha cadeira. Todos riram de mim, e me humilharam por semanas, foi aí que eu percebi que na escola é como na escravidão, sua liberdade depende de roupas, sapatos, amigos, sua popularidade, mas quando você é o escravo sofre bem mais com o açoite de palavras, olhares de discriminação que não tiram sangue como chicotadas mas retiram “lágrimas sangrentas que correm da alma”. 

Quem dera fosse diferente. Hoje tenho orgulho pois meus descendentes aboliram a escravidão, mas estou triste pois ela parece ter voltado! 
* nome fictício.


A inspiração para o nome saiu da música "Morte e vida Stanley" de Lirinha e Cordel do Fogo Encantado, que pode ser conferido no link abaixo.



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“A Privataria Tucana” marca o fim de uma era

extraído do Blog do Nassif 

Enviado por luisnassif

O livro "A Privataria Tucana" marca o desfecho de uma era, ao decretar o fim político de José Serra. A falta de respostas de Serra ao livro - limitou-se a taxá-lo de "lixo" - foi a comprovação final de que não havia como responder às denúncias ali levantadas.
O livro mostra como, após as privatizaçōes, o Banco Opportunity - um dos maiores beneficiados - aportou recursos em paraísos fiscais, em empresas da filha Verônica Serra. Depois, como esse dinheiro entrou no país e serviu, entre outras coisas, para (simular) a compra da casa em que Serra vive.
Tem muito mais. Mostra a extensa rede de pessoas cercando Serra que, desde o início dos anos 90, fazia negócios entre si, utilizando o Banespa, o Banco do Brasil, circuitos de paraísos fiscais, as mesmas holdings utilizadas por outros personagens controvertidos para esquentar dinheiro
Provavelmente o livro não suscitará uma CPI, pela relevante razão de que o sistema de doleiros, paraísos fiscais, foi abundantemente utilizado por todos os partidos políticos, incluindo o PT. Aliás, uma das grandes estratégias de José Dirceu, assim que Lula é eleito, foi mapear e cooptar os personagens estrangeiros da privatização que, antes, orbitavam em torno de Serra.
Essa a razão de ter terminado em pizza a CPI do Banestado, que expunha personagens de todos os partidos.
Nesse imbróglio nacional, a posição mais sensível é a de Serra - e não propriamente para a opinião pública em geral, mas para seus próprios correligionários. Afinal, montou um esquema que em nada ficou a dever a notórios personagens da República, como Paulo Maluf. Jogou pesado para enriquecimento pessoal e da família.
Com as revelações do livro, quebra-se a grande defesa de Serra, algo que talvez a sociologia tenha estudado e que poderia ser chamada de "a blindagem dos salões". É quando personagens controvertidos se valem ou do mecenato, das artes, ou da proximidade com intelectuais para se blindarem. O caso recente mais notável foi o de Edemar Cid Ferreira e seu Banco Santos.
Serra dispunha dessa blindagem, por sua condição de economista reputado nos anos 80, de sua aproximação com o Instituto de Economia da Unicamp. Graças a isso, todos os pequenos sinais de desvio de conduta eram minimizados, tratados como futrica de adversários.
O livro provocou uma rachadura no cristal. De repente todas aquelas peças soltas da história de Serra foram sendo relidas, o quebra-cabeças remontado à luz das revelações do livro.
Os sistemas de arapongagem, que permitiram a ele derrubar a candidatura de Roseana Sarney no episódio Lunus; o chamado "jornalismo de esgoto" que o apoiou, as campanhas difamatórias pela Internet, as suspeitas de dossiê contra Paulo Renato de Souza, Aécio Neves, o discurso duplo na privatização (em particular apresentando-se como crítico, internamente operando os esquemas mais polêmicos), tudo ganhou sentido à luz da lógica desvendada pelo livro.
Fica claro, também, porque o PSDB - que ambicionava os 20 anos de poder - jogou as eleições no colo de Lula.
Todas as oportunidades de legitimação da atuação partidária foram preteridas, em benefício dos interesses pessoais da chamada ala intelectual do partido.

Assista a reação do próprio ao lançamento do livro...





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A repercussão ao desmascaramento do tucanato

O livro " A Privataria Tucana" do jornalista Amaury Ribeiro Jr. já  causa uma devastadora reação midiática em pólos antagônicos: o silêncio ensurdecedor da grande mídia podre de um lado, e na polaridade oposta o deleite da "blogsfera" e da "banda pobre" da imprensa. Festejado por aqueles que não aguentam mais os travestis da luta contra a corrupção nadarem de braçada nas cagadas de alguns governistas, o jornalista Amaury Jr. também já foi questionado por colegas seus como marqueteiro político pró-petista: 
"O livro “Privataria tucana”, da Geração Editorial, de autoria de Amaury Ribeiro Jr, é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação e dos blogueiros chapa-branca para criar um clima de mistério em torno de suas denúncias supostamente bombásticas, baseadas em “documentos, muitos documentos”, como definiu um desses blogueiros em uma entrevista com o autor do livro." 
Disse ainda Merval Pereira que "Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e oferta de vantagem a testemunha, tendo participado, como membro da equipe de campanha da candidata do PT, de atos contra o adversário tucano. O livro, portanto, continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista e, evidentemente, tem pouca credibilidade na origem." 
Dado a oportunidade ao contraditório, fico com Miro:
"O livro de Amaury Ribeiro não é apenas “uma luz sobre este passado ainda imerso nas sombras”. É um canhão de holofotes que devassa os subterrâneos da privatização, “o maior assalto ao patrimônio público da história do Brasil”. É a peça que faltava para entender o que ocorreu naquele período de êxtase neoliberal, de desmonte do estado, da nação e do trabalho.
Nas suas 343 páginas, um terço delas com documentos oficiais, o livro comprova que a privataria serviu para enricar meia dúzia de empresários, que concentraram ainda mais as riquezas, mas também para desviar recursos públicos para tucanos de alta plumagem, que se utilizaram de mecanismos engenhosos de lavagem de dinheiro e de paraísos fiscais."
Esta leitura está em minha agenda de férias. Pra repercutir com ainda mais humor o tema, acompanhe o lançamento do filme deste best seller brasileiro, por Cloaca News .




sábado, 17 de dezembro de 2011

Nota de agradecimento


Diante dos acontecimentos e vivências recentes em meu trabalho, busquei algumas palavras que, ressaltando seu sentido, apresentaram concreticidade em corpos, vidas, ações, palavras, sentimentos, sonhos:
Privilégio. 
Aprendizado. 
Doação. 
Companheirismo. 
Oportunidade. 
Caráter.
Infortunadamente, esse pronunciamento de um novo fazer pedagógico, um novo caminho para a educação física veio de encontro ao seu sentido mais antagônico, encerrando com o gosto mais amargo da pequena política recheada de velhas práticas que sempre combatemos e combateremos. Atos e demonstrações desproporcionais de força não são novidade para quem contenda com idealismo na base, no chão, na rua, nas fileiras, pela civilização e contra a barbárie. Essa opção é irreversível. E jamais solitária. 
Há uma canção da banda Foo Fighters  (mais uma...) chamada Best of You que expressa meu sentimento em relação a esta conduta e seus representantes. Ela diz:

Eu tenho outra confissão a fazer
Eu sou o seu tolo
Todos têm correntes para quebrar
Segurando você
Você nasceu para resistir?
Ou para ser abusado?

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?

Ou você se foi e virou outra pessoa?

Eu precisava de um lugar para me enforcar
Sem o seu laço
Você me deu algo que eu não tinha
Mas que não teve uso
Eu estava fraco demais para desistir
Forte demais para perder
O meu coração está preso de novo
Mas eu me libertarei
Minha mente me oferece vida ou morte
Mas eu não consigo escolher
Eu juro que nunca vou desistir
Eu me recuso

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?

(...)


Alguém tirou a sua fé?
É real a dor que você sente?
A vida, o amor, você morreria para se curar
A esperança que dispara o coração partido
Sua confiança?
Você deve confessar

(...)


Eu tenho outra confissão, meu amigo
Eu não sou um tolo
Estou ficando cansado de recomeçar
Em um lugar novo
Você nasceu para resistir ou para ser abusado?
Eu juro que nunca vou desistir
Eu me recuso

Alguém está tirando o melhor
O melhor, o melhor, o melhor de você?



(...)


Árdua tarefa é nomear sem cometer injustiças cada um dos que participaram deste processo cujo capítulo encerrou-se, sob o ponto de vista pessoal, com meu memorando de devolução expedido ontem, mas sob o ponto de vista deste magnífico coletivo, com a exoneração de seu "comandante" em 02 de dezembro último. Meu mais profundo agradecimento a cada um de vocês, companheiros e companheiras que viveram comigo esta história, tanto no cotidiano de trabalho como nas reuniões e encontros periódicos, assim como também aqueles que alicerçam este sonho há 20 anos ou mais, contribuindo para nossa formação profissional e humana...
Me permito pessoalizar esse agradecimento em nome do Tatu e do Daniel, companheiros que, além de estarem cotidianamente mais próximos, contribuíram muito paciente e carinhosamente para meu engrandecimento pessoal e profissional, desde outrora avalizando minha identidade neste grandessíssimo projeto. Há braços, companheiros! A luta sempre continua! Estamos e estaremos juntos.


neste momento, este é meu grito


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poema


Para o meu amor.

Times Like These
Foo Fighters 

Eu sou uma rodovia de mão única
Sou uma estrada para longe
Que segue você de volta para casa

Eu sou uma luz de rua acesa
Sou uma luz branca ofuscante
Piscando sem parar

Em tempos assim,
Você aprende a viver de novo.
Em tempos assim,
Você se entrega e se entrega de novo.

Em tempos assim,
Você aprende a amar de novo.
Tempos assim
Outra e outra vez

Eu sou um novo dia nascendo
Sou um novo céu que
Abrigará as estrelas esta noite
(...)
Em tempos assim,
Você aprende a viver de novo.
Em tempos assim,
Você se entrega e se entrega novo.

Em tempos assim,
Você aprende a amar de novo.
Tempos assim
Outra e outra vez.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O exemplo de Sócrates


O dr. Sócrates não pode ser eleito como um jogador de futebol à frente de seu tempo, mas fora de tempo, pois como ele poucos exemplos (sinceramente, não me recordo de nenhum) possuíram uma conduta revolucionária dentro desse campo de trabalho. Sua visão não demonstrava ser mercadológica nem marqueteira, como os oportunistas exploradores e bandidos que circulam neste meio, mas sim qualitativa  em relação ao exercício do trabalho do jogador de futebol, ofício que ele exercia não como alternativa única de posicionamento social, mas como atividade de prazer. Já a faculdade de medicina lhe garantiu um futuro profissional diferenciado em relação aos seus pares. Ele teve condições materiais, familiares, econômicas, sociais, de discernir sobre que alternativa escolheria para se posicionar em sua vida profissional após o término da carreira de jogador. Isto não ocorre entre (estimativa jocosamente pessoal) 99,1% daqueles que se lançam na carreira profissional de boleiro.
Há de se ressaltar a extrema dedicação e competência pessoal para conciliar a carreira de jogador profissional e o estudo da medicina.. A prática profissional de futebol com maior embasamento político certamente obteve maior consistência com a soma de todos esses fatores. Divago se ele não fazia a indagação: "qual a merda da diferença entre o trabalho do médico, do jogador de futebol, do lixeiro, do professor"? Ou ainda "porque apenas as profissões mais conceituadas têm oportunidade de diálogo em relação ao exercício de seu trabalho?"
Ele foi iconizado como o Doutor da bola e da democracia.
Suas declarações e posturas deixavam claro que ele estava se lixando para o moralismo que encharca nossa sociedade: fumante e bebedor de cerveja, e ainda por cima atleta e médico.  Poderia ser análogo ao exemplo do professor de educação física obeso, ou do lixeiro culto. Que tapa maior no conservadorismo do senso comum poderia ser dado, que rompimento de paradigma mais explícito poderia ser demonstrado naquele momento histórico, na verdade, em nosso momento histórico? Ao fazer isso e incitar outras ações como a Democracia Corintiana ele acabou dialeticamente reforçando uma demanda histórica então emergente por liberdade e protagonismo social mas, ao mesmo tempo, reforçando a concepção que a transformação, de fato, emana de quem tem condições para tal, e não do povo que é pobre, lascado e mal instruído. E dessa responsabilidade ele tinha clareza. 
Outros jogadores que também lutavam por liberdade de expressão, de exercício livre de seu trabalho e de sua vida pessoal foram estigmatizados como encrenqueiros, indisciplinados, arruaceiros, vagabundos, violentos, ou o que lhe valha. Não eram doutores, mas pobres que encontraram no futebol alternativa única de ascensão socioeconômica. Gosto de citar o exemplo de Edmundo, pois ele se enquadra perfeitamente neste exemplo. Craque de bola, inteligente, mas... Animal. Como ele tantos outros, eu incluso, que querem apenas exercer bem o seu trabalho e, após o compromisso, tomar uma gelada com a família e os amigos, curtir um cineminha, levar os filhos ao parque. Sócrates também. Animal, certamente também.
O engajamento político é, inevitavelmente, o o legado mais marcante do doutor da bola. Exímio craque de bola, ele botou pra F. nas fileiras reacionárias daqueles que gerenciavam o "departamento profissional" do clube em que jogava, democratizando radicalmente as decisões sobre o exercício do trabalho. E apresentou resultados efetivos que agradaram a todos: torcida, trabalhadores da bola e dirigentes (pois o retorno midiático e financeiro foi incontestável). Esse grupo e seu líder demonstraram que o trabalho pode ser exercido de forma plena, liberta e democrática, no sentido de oportunizar o diálogo e a tomada de decisões colegiadas junto aos co-partícipes daquela pequena sociedade.
A Democracia do dr. sucumbiu a interesses econômicos e mercadológicos presentes no meio futebolístico de alta competitividade. A gestão do futebol, ao se profissionalizar sob a orientação da lógica neoliberal liderada e avalizada pela FIFA e pelo COI, mediou interesses dos trabalhadores, patrões e mercadores do esporte. Dessa forma, assim como no mercado de trabalho, os direitos e obrigações dos trabalhadores do esporte de alto rendimento são conceitualmente compatíveis com a dos demais trabalhadores. Ou seja, prevalece a lógica do patrão.


A lição

Os projetos para a educação física da rede pública de ensino Distrito Federal que passou recentemente (em seus níveis diversos - desde sua direção até ao piso batido da quadra) por um processo de reestruturação semelhante a Democracia do dr. Sócrates, tais como o surgimento de formações, de manifestos pedagógicos, reformulação de seu currículo, reforçamento de ações na educação física escolar, desporto e jogos escolares e ampliação de sua intervenção para todos os níveis de ensino, tem sinalizado um possível sucumbimento frente a declarações e acontecimentos recentes, emanados de poderes que mediam os mesmos interesses referidos acima. Porém , mais do que prazer ou direito social, como Sócrates transmitiu em sua vida profissional, mas também por ideologia e justiça, essa luta que é representada por esse projeto histórico não sucumbirá, esteja no campo de ação que estiver. O poema representa meu sentimento frente a esse golpe.